Pedras graníticas circulares.
O Moleiro, a água do ribeirinho...
Mós girando, vigor do moinho.
Zé Ernesto Gaia
Uma chuva de cometas de cauda amarelecida...
Rasgaram o manto negro e estrelado da noite!
Sadomasoquista algemada de couro vestida,
aguardava ciosamente a libido dum açoite! ...
Zé Ernesto Gaia
Desilusão, dor
Abster-se d' um amor
Há nova Paixão
Zé Ernesto Gaia
Carta com lágrimas chega ao Teatro de Guerra!
Sortilégio, junta quatro folhas secas dum trevo...
Ideio quando meu falo entre pernas ela enterra.
Junta beijo de batom para mostrar o seu enlevo.
Zé Ernesto Gaia
Negra com a boca cerrada, um só gemido...
Não era na vida o primeiro filho que gerou!
Na palhota de terra batida, um parto parido,
vencida pela dor e esforço suado, desmaiou.
Zé Ernesto Gaia
Encarceraram o tempo em desconhecido calendário!
Percorreu assim minutos, horas, dias, meses e anos...
Sem aptidão de prever o futuro, o sufoco era diário,
talvez, um mero suicídio seja o menor dos danos.
Zé Ernesto Gaia
Como é sincera a minha velha Loucura.
Lances subtis, não enganam a mente...
Incito células, jamais ajudam na procura.
Só encontro factos fora da parte demente!
Zé Ernesto Gaia
Ó Astro Rei que segues a aurora!
Acordas luminoso para Nascente...
Faz um raio mostrar onde mora.
Conto os dias, dela estou ausente.
Zé Ernesto Gaia
Cantos de gaivotas
Preces simples das devotas -
No azul Celeste
Zé Ernesto Gaia
Amiga do ventrículo esquerdo e do direito!
Bombeiem o sangue pelos ramais das veias...
Sinto-o a pulsar com um suave ritmo no peito.
Não parem, sem vós, sou castelo sem ameias.
Zé Ernesto Gaia
Ó Mulher amada e formosa...
São molhados os teus beijos!
Tua saliva uma bebida licorosa,
satisfaz os impetuosos desejos.
Zé Ernesto Gaia
Um homem nu, diante uma mulher nua...
Entrelaçados num só tronco humano!
O Sol produz um meigo reflexo da Lua.
Cópula lasciva, de ardoroso amor insano.
Zé Ernesto Gaia
Amante do mar de vivas marés regidas pela Lua...
Nereidas nela dissimulam os seus dourados cabelos!
Ao refluir da Preia-mar vai ficando extensa, nua.
Crianças brincam com ela, erguendo frágeis castelos.
Zé Ernesto Gaia
Árvore nua, folhas caídas.
Revolteadas pela ventania...
Outono, deliciosa fantasia!
Zé Ernesto Gaia
Fui demasiado perdulário na minha juventude...
Para mim todas as noites eram luminosos dias!
Pensava, gozar a vida na sua máxima plenitude,
não passando de negras ilusões, devassas folias.
Zé Ernesto Gaia
Deusa no Olimpo
Vénus pérola sentida -
Amas dom da vida
Zé Ernesto Gaia
A Paixão é uma fera selvagem;
O Amor é fera já amansada;
A Amizade é partir de mão dada!
Zé Ernesto Gaia
Meu coração de poeta bate acelerado,
procura ritmo num velho estro enviesado!
Antes de eu morrer, relê os meus escritos...
Versos rudes de cepa directa na terra bravia!
Palavras mais palavras, talvez mil gritos,
enraizados em socalcos de xisto sem enxertia.
Zé Ernesto Gaia
Quero teu corpo e tua alma,
No segredo de noite calma!
O suficiente e o necessário.
Libidos, tal contas do rosário...
Zé Ernesto Gaia
Sonata d' amor
Doce reflexo da Lua -
Esbelta e nua
Zé Ernesto Gaia
O tédio enraizou no quotidiano profundamente;
como tumor maligno a corroer sem cessar!
O efeito da quimioterapia tornou-o recorrente!
Caiu na rua fétida de multidão, finou-se a bocejar.
"O tédio é o pior de todos os estados."
Voltaire
Zé Ernesto Gaia
Noite fria no meu coração!
Não vieste para a aquecer,
poderei mesmo vir a perecer.
Vem! Trás contigo lava de vulcão...
Zé Ernesto Gaia
À janela aguardavas ansiosa o meu sinal,
dirigindo o olhar para o término da rua!
Finalmente o meu vulto, desceste ao portal,
mais um beijo ao brilhante reflexo da lua.
Zé Ernesto Gaia
Brisa do levante
É odor teu, meu amor -
Sândalo distante
Zé Ernesto Gaia
No Jardim do Morro
Caramanchão do desejo -
Sustenho um beijo
Zé Ernesto Gaia
Sinfonia anunciando a chegada da alvorada!
Coro de aves em harmonia nos vários tons...
Acordes Divinos cadenciando alegre cantada...
Um singelo chilrear de múltiplos e belos sons.
Zé Ernesto Gaia
A chuva escreve mais uma página na floresta!
As árvores curvam-se dóceis abatidas pelas águas;
Enxurrada de paus, folhas e o moado que resta;
Regos fundos e lodosos, aí ficam escritas as mágoas. Zé Ernesto Gaia