Lábios

Lábios desenhados no meu pescoço com batom!
Marcas de desejos para actos de amor sensual...
São de paleta carmim, brotos lúbricos de paixão...
Longos e depravados momentos de amor carnal.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 162

Borboletas frágeis!
Metamorfose, crisálidas...
Cores vivas, cálidas.



Zé Ernesto Gaia

MENINO

A Alberto Caeiro


Pressinto Cousa vinda do alto!
Mito não é, me soou verdadeira...
Menino à Terra vem dar um salto,
dormirá Feliz Noute à minha beira.



Zé Ernesto Gaia

ALMA

A Alberto Caeiro


O Frio arrefece cousas sem Alma!
Mitos velhos do nosso imaginário...
A vereda está nevada, mas calma...
Vegetando alo, um mal necessário.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai -161

Lua fascinante!
Espera o seu amante...
Janela, vidraça.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 160

Cuco parasita!
Jamais é dono do ninho...
Usa um vizinho.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 159

A Ninfa acorda!
Uma Rã a coaxar...
Meigo despertar.



Zé Ernesto Gaia

MEMÓRIA

O silêncio impera na memória do imediato!
Recorda o meu passado como fosse agora...
Não me lembro do que disse há uma hora,
para quê recordações de um passado lato.



Zé Ernesto Gaia

MINHA LOUCURA

A Alberto Caeiro



Eu existo com a minha loucura!
Nunca tive no meu íntimo alma...
Meu Mito estende-se na planura...
Será uma flor ou grão de calma?



Zé Ernesto Gaia

" TRATAMENTO URGENTE "

O meu país precisa de lixívia,
muita lixívia e outros similares,
para lavar as mentes corrompidas
das aves de rapina em nossos ares.

Mas, se a lixívia p'ra tal não chegar,
há creolina e outros mais potentes;
que, só assim nos libertaremos
e poderemos finalmente ser contentes.

Os que mais proclamam ajudar,
transmitindo exagerada confiança,
são os que acabam mesmo a abusar
daqueles que crêem na liderança.

E o nosso Portugal vai decaindo,
vai definhando, morrendo lentamente.
Pscht ! Quer este país sobreviver!
É urgente um antivírus, é urgente!


PINTURA » Gabinete à Noite de Edward Hopper


Adriana Reis - Dez.2009

Poetisa amiga da Cidade Invicta

A ÁGUIA-REAL

A Águia-real voa elegante nas alturas...
Olhos de rapina bem fixos e em alerta,
busca presas nas imensas planuras!
Um voo picado e mais uma presa certa.



Zé Ernesto Gaia

HINO AO COPINHO

Senhora Imaculada dos Pasteis,
não deixeis acabar o bom vinho...
Mantém sempre cheios os túneis.
Sendo a aguardente da mais forte.

Juro e jurarei, serei cheio copinho...
Pronto a me beberem até ao desnorte.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 158

Bela oração...
O Pulsar do Coração!
Centelha de vida.



Zé Ernesto Gaia

PROSTÍBULO

Entrou para foder num prostíbulo...
Odores parecidos ao das igrejas!
Queimavam incensos num turíbulo...
Queriam livrar as putas das invejas.



Zé Ernesto Gaia

MERCENÁRIO

Mercenário para actos de amor ilimitados,
vendendo caro as artes da subtil luxúria!
Para ele só existem cegos e vis tratados...
Cabe-lhe o prazer do saque, a ela a penúria.


José Ramos

Março 2013

Hai-cai - 157

Cor, sangue de pombo!
Rubi raro, anelar,
um raio Solar.



Zé Ernesto Gaia

SILENCIOSA PRAÇA DO MARQUÊS DE POMBAL

O Silêncio ameaça a alma da Praça do Marquês!
Gigantes amordaçados sem palavras pra dizer...
Os pombos arrulham, só de quando em vez...
Pombal das omissões, aprovadas sem se saber.



Zé Ernesto Gaia

VIRGEM

Vida e morte da Virgem que enlouqueceu!
A seiva do quotidiano só te deixou vegetar.
Amor para aquela que por paixão morreu...
Ódio para aquele, que não se deixou amar.



Zé Ernesto Gaia

PROSTITUTA

Atrás do biombo desnuda-se para mim!

A ansiedade de catraio, cria insegurança...
Queria ser homem e era esse o meu fim...
Um, dois, três minutos, findou a criança.


Prostituta »» pintura de Amedeo Modigliani.

Zé Ernesto Gaia

LOUCURA

Agradeço à Divindade o gosto na procura!
Papéis sujos de tinta com escrita minha.
Simpatizo, satisfaz-me a busca da loucura...
Sentado, olhos fechados, à escrivaninha.



Zé Ernesto Gaia

CARINHA LAROCA

Toquei com a ponta da língua,
na cúpula do céu da tua boca!
Sentia-me a morrer à míngua,
dessa carinha meiga e laroca...


Pintura de Irene Sherie


Zé Ernesto Gaia

REINO DA DINAMARCA

Algum mal me faz o Reino da Dinamarca!
Esbelta e amistosa a mulher Dinamarquesa...
Seu olhar azul, a alma e o desejo me marca...
Como sofro quando me afasto da sua beleza



Zé Ernesto Gaia

MEDITAR VERSUS REFLECTIR

Quando não penso Medito!
Meditar não é modo de pensar...
Quando penso apenas Reflicto.
O Vazio, luz de estar a meditar.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 156

Hades de Deus Cronos!
Rei dos profundos Infernos...
Salva, entes ternos.

Escultura Hades e Antígona, 2003


Zé Ernesto Gaia

SEM RIMA (PARADOXO)

A Alberto Caeiro


Sem rima escrevo este poema!
A alguém onde não habita alma...
Interior vazio, vida sem problema,
enxerga na Natura, imensa calma.



Zé Ernesto Gaia

"DOCES DELÍCIAS" (Soneto p/ Nov.2009)

Há umas doces delícias que aumentam,
depois dos filhos serem já crescidos:
são os netos, pois então, que envaidecem
os babados avós entristecidos.

O presente é mais pequeno que o passado
e também mais pequeno que o futuro;
no entanto, é o que gasta mais tempo;
é doce às vezes, outras bem duro.

E lá se volta de novo a repetir,
acompanhando os novos despertares,
mas com mais tempo e até mais sabor.

Assim vivendo vida, é existir,
com mais sabedoria e vaidades,
mas também com muito mais amor.



Adriana Reis.

"Poetisa Amiga"

Hai-cai - 155

A José Malhôa


Clara torce roupa!
Alva como neve pura...
Escorre frescura.



Zé Ernesto Gaia

PALAVRAS

Assustaram-me os soluços das palavras,
sussurrados nas mais sórdidas histórias!
Fétidas, estavam fechadas por aldravas...
Baú de loucos, escritos macabros, escórias.



Zé Ernesto Gaia

LUZINHA VISÍVEL

Uma luzinha ao fundo do túnel bem visível,
que um sopro da mente insiste em apagar!
Cair na escuridão parece iminente, horrível...
Soltaram-se as lágrimas, comecei a chorar.



Zé Ernesto Gaia

AMANTE

É a que diz amo-te sem te amar!
A que diz penetra-me sem te querer...
A que solta lágrimas sem se molhar...
Eterna fingidora, que te frui a foder.


Letreiro »» Do not Disturb


Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 154

Morfeu revela!
Pesadelo, valida...
Qual tipo de vida?


Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 153

Vivo sem sentido...
Vive como as flores!
Vida dos amores.



Zé Ernesto Gaia

Com final feliz

No trinta da rua do Corpo da Guarda existia...
Prostíbulo com a mais atiradiça e fina meretriz!
Tímido, aguardou disponibilidade da ruiva "tia"...
Cochichavam, ser boa no prazer, com final feliz.



Zé Ernesto Gaia

Cassandra

Cassandra jovem de uma grande beleza!
Apolo fez dela sua profetisa preferida...
Ao querer violar, a sua nobre singeleza,
ela negou! Tróia incrédula caiu ferida.



Zé Ernesto Gaia

Salomé

Salomé na dança do ventre é brilhante!
João Baptista acusa sua mãe de adultério...
Cabeça do profeta trocada como diamante.
Tetrarca instrumento deste horrível mistério...



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 152

A Vida é curta!
Nem é curta nem comprida...
Simplesmente vida.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 151

Vénus sem pudor...
Revela sua libido,
Marte sedutor.



Zé Ernesto Gaia

Olaia

A Olaia, misteriosa no beijo da traição!
Árvore de Judas, onde nela se enforcou...
A sua beleza lhe retira a má reputação,
tua amorosa flor, cor de púrpura se tornou.



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 150

Jesus; O Sudário.
A mortalha do mistério...
O Seu Relicário!



Zé Ernesto Gaia

MOINHOS DE LEVADA (POETRIX)

Moinhos, água das levadas...
Moleiros, as mós sempre a girar...
Grão, carolo, farinha pra peneirar.



Zé Ernesto Gaia

Fiel loucura

Não existe seda que supere a tua pele.
Junto do portal luxurioso dos sentidos...
Nua do pudor, que em ti tudo se revele!
Fiel loucura, sonhos maldosos, desmedidos.

PINTURA »»» Nu deitado, de Dário Mecatti.


Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 149

Mostra teu amor!
Tirando à flor, maldade...
Mantendo seu Pudor.

Flor da maldade PINTURA »» (René Magritte/1946)


Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 148

Despir Afrodite!
Alisar pele sedosa...
Um botão de rosa.



Zé Ernesto Gaia

Clepsidra

A Clepsidra deixou de medir o tempo!
A água evaporou-se e desapareceu...
Um velho não viu no facto um contratempo,
pôs uma flor na lapela e até rejuvenesceu!



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 147

Cogumelo, veneno
Envenena com prazer -
Não quero viver



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 146

Estrela Cadente
Noite serena, escura -
Desejo carente



Zé Ernesto Gaia

ALVÍSSARAS

Ó Portugal eras já meu velho conhecido!
Com tanto mar deves ter desaparecido.
Alvíssaras para quem te houver achado...
Não parecias o mesmo de tão mal tratado.


Pintura»» Colheita - Ceifeiras Silva Porto, 1850 -1983


Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 145

Ó Jorge de Sena
Sublimes escritos, hábeis -
Sempre implacáveis



Zé Ernesto Gaia

Hai-cai - 144

Aguardente Forte
Não deixa rasto de mágoa -
Benévola água



Zé Ernesto Gaia

AS NOSSAS RIMAS

As nossas rimas foram sempre paralelas!
Encontraram-se no infinito dos fonemas...
Parapeitos de abertas e cristalinas janelas...
Eram já conjuntos unidos, amorosos poemas!

Pintura »» Edward Hopper



Zé Ernesto Gaia